As aulas recomeçam no campus do Araguaia dia 25 de junho depois
de mais de dois meses de greve estudantil pela manutenção do preço das
refeições no Restaurante Universitário. Os alunos em Cuiabá ainda mantém o
movimento paredista, diferentemente das unidades da UFMT em Sinop, Rondonópolis
e Araguaia.
Certamente, não é possível dizer com precisão o que se
passou nesse período, mas algo aconteceu e desconcertou a todos. Um acontecimento
se deu e nos transformou.
No entanto, é preciso destacar que um acontecimento não pode
ser avaliado pela quantidade de dias em que decorreu, pela quantidade de
pessoas que mobilizou, pelas suas causas ou suas consequências. Na verdade,
apenas a experiência – aquilo do qual saímos transformados – define um
acontecimento.
O acontecimento, em stricto sensu, questiona o instante e sujeito na atualidade.
Afinal, quais temporalidades outras emergiram com ocupações, encontros, assembleias,
rodas de conversas, produções audiovisuais, fotografias, discursos eloquentes, marchas,
gritos de ordem, intervenções artísticas, saraus e muito mais? Além disso, quais
outras formas de subjetividade puderam se constituir para quem escolheu
encavalar o próprio desejo no acontecimento? Em outras palavras, em um tempo fora do tempo cronológico,
quem tornou-se outro ao se lançar no abismo imprevisível do devir do
acontecimento? O que deixamos de ser e estamos em via
de nos tornar depois do que se passou?
Sejamos humildes e reconheçamos que nenhum indivíduo ou grupo
de indivíduos pode ser considerado responsável por qualquer acontecimento. Ele
acontece à revelia de toda planificação e agência direta, pois não pode ser capturado pela lógica
da causa e do efeito. Dele, temos acesso apenas aos rastros inscritos em nossos
corpos. Para compreendê-lo é preciso recorrer às novas configurações de nós
mesmos decorrentes do próprio acontecimento.
Mas também sejamos francos, jamais saberemos exatamente o que somos. É preciso abandonar as narrativas míticas do eu que insistem em nos aprisionar em modelos identitários, pois “o homem que diz 'sou' não é, porque quem é mesmo é, 'não sou'”. A centralidade
do eu trata-se de uma ilusão que o acontecimento faz ruir: o eu é um outro, puro devir.
Avancemos para além de nós e para os próximos
acontecimentos. Sejamos dignos de nossos acontecimentos!
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